Miguel Antonio Ágaci

funerais alegóricos

Uma movimentada e complexa cidade é dissolvida nas realizações de seus obscuros moradores e acaba se dobrando entre o que é e o que não é real. Os frenesis, devaneios e distorções, martelando-se uns contra os outros, atingiram o nível mais íngreme nas vidas dessas pessoas, transformando-as para sempre.

Surgem relatos de uma lenda urbana contemporânea sobre a existência de um lugar estranho, fora da compreensão da realidade, escondido entre os prédios, do qual uma vez visitado, não se pode mais voltar – nunca mais. Enquanto isso, episódios de crime e violência cerca os moradores e os conectam pelos vários cantos nebulosos da cidade.

Cada um dos 8 contos costuram uma mesa trama, que reflete a dualidade nas vivencias de uma grande cidade emergente, sedutora e cruel, na qual as histórias passeiam entre diversos gêneros literários – romances tempestuosos e suspenses brutais -, num contexto urbano de incessante tensão que mergulha profundamente em momentos de sensibilidades e vulnerabilidades humanas.

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Existe um lugar estranho que ronda a imaginação da população desta cidade.

As pessoas que tem suas vidas atravessadas por este lugar começam a viver anomalias obscuras em suas realidades.

Até chegarem em momentos em que suas convicções são postas em cheque.

E a realidade não parece mais fazer sentido.

Mas quão profundo estes personagens irão em suas próprias alucinações?

Até que ponto este lugar misterioso irá colidir com o que é real?

E o quanto as suas vidas serão impactadas de formas irreversíveis?

sobre o livro

O livro foi escrito entre os anos de 2016 e 2021, em São Paulo, pelo escritor e, na época estudante de psicologia, Miguel Antonio Ágaci. As inspirações para sua composição orbitam Caio Fernando Abreu e vão de Neil Gaiman a David Lynch. A obra pode ser classificada como ficção urbana, realismo mágico e suspense sobrenatural.

“Funerais Alegóricos nasceu de uma efusão de ideias e sentimentos, dessa coisa de ser humano, sobre se espalhar e marcar todos os lugares. Sobre absorver tudo e cada sentimento. E desse gigantesco, aterrador e poético mundo de sentimentos, não restam palavras suficientes que possam discernir cada fenômeno. E ficam somente as alegorias. ” – Miguel Antonio Ágaci.

Em suma, Funerais Alegóricos é sobre os sentidos, sobre a percepção da vida e suas mudanças.

Resumo dos contos

Neste conto acompanhamos Allan Marvin pelos momentos mais importantes de sua vida. A infância complicada, o início da fase adulta, a vida com os amigos e amores, as experiências com drogas e com um mecanismo capaz de simular alterações sensoriais que irá mudar sua vida.

“Saíram correndo do hotel, deixando os hóspedes assustados e pularam para dentro da caminhonete. Checaram uma segunda vez o conteúdo da mala, mas mesmo assim não dava para acreditar. As notas estavam bem arrumadinhas, uma fileira em cima da outra, recheando a mala por completo. Berraram por todo o caminho de volta.

— Não acredito que a gente não morreu – gritou Fred, distribuindo tapas no painel do veículo. – Eu não acredito nessa merda – cuspiu.

— Vou comprar meus próprios retratinhos da Carmem Miranda – brincou Allan, com os braços enfiados dentro da venerável mala.

— Estamos vivos, seus putos – gargalhou Beatrice.” – p.32

Cecí está ansiosa para começar uma nova vida nos próximos dias, graças a uma bolsa de estudos que ganhou. Porém, sua prima Lavínia, uma criança prodígio decide fazer questionamentos perigosos e previsões controvérsias durante a madrugada.

“— Sabe, prima, eu pedi que deixasse essa fresta aberta na janela justamente para isso. Bem, eu percebi que os fantasmas não gostam de se sentir presos, e que ficam irritadiços se forem trancados durante a madrugada, que é o período favorito deles, e começam a pregar peças nos vivos, para poderem sair ou entrar quando quiserem dos lugares.

— Poxa, Lavínia, você realmente acredita nessas coisas? – estava surpresa com o lado menos pragmático dela, mas tudo bem, é apenas uma criança. ” – p.45.

Natan Vanglore está passando por uma elaboração de perda bastante intensa e os acontecimentos ao redor parecem não mais afetá-lo. Enquanto luta contra dolorosas lembranças e tenta superá-las, as pessoas ao redor parecem não compreender seu estado sentimental e isso pode acarretar graves consequências.

"Não adianta, nada disso vai voltar. Você pode até chorar como um idiota sensível que é, ou pode chutar esse sofá de merda. Pode chutar ele, dê um coice nele. Chute de novo até que ele vire as costas para o chão e chute novamente até rasga-lo por completo. Depois chute esse vaso todo remendado que ela gostava. Essa grande porcaria a que ela dava tanto valor. Chute e faça as flores se arrebentarem na parede e terminarem de morrer, sozinhas. Sim, muito bem, agora sinta os cacos gigantescos de argila do vaso entrando fundo no seu pé, imbecil. ” - p.67.

Um jogo famoso entre os jovens desta cidade é planejado por David, e enquanto ele e seus amigos realizam os brutais desafios, manifestações estranhas começam a surgir – tanto do lado de dentro quanto de fora da cabeça de David.

David esperava por reações um pouco mais positivas. Eles baixaram suas cabeças ao mesmo tempo e Sezar tampou o rosto com as mãos trêmulas.

— Qual o problema, hein? – Questionou ele, exausto das emoções corrompidas de seus amigos. – Era isso o que vocês queriam, não era? Que culpa tenho [...], hein? Nenhuma. Ele foi o que mais quis terminar o jogo e por isso foi primeiro. A Sentença dele foi apressada, quis nos assustar. Vocês vão deixar ela vencer? Se não nos apressarmos, as velas vão derreter e aí, meus amigos; aí sim vamos estar todos ferrados. ” – p.102.

Depois de sofrer com uma peculiar crise aparentemente cognitiva, Sara decide buscar um tratamento rápido em um canto isolado da cidade. Lá ela descobre que somente um procedimento arriscado pode salvá-la, mas acaba tendo uma experiência aterradora.

“Adentrou de cadeira de rodas na sala preparada. O doutor havia lhe explicado que em sua mente estava tomando uma forma muito perigosa de se manifestar. A solução inicial – e a única – seria exatamente mergulhar no abismo que se mostrava a diante. ” – p.128

Jonatan decide relatar os episódios violentos de sua adolescência, mas algo em seu discurso não soa natural. Algo não parece fazer parte desta realidade.

“Ah, claro. Considero de extrema importância comentar as estranhas sensações que eu sentia nessa época. Alguns tinham seus problemas pessoais, íntimos, mas eu tinha pequenas visões. Pequenas sensações esquisitas. Eu não saberia explicar, de qualquer forma, mas eram minúsculas sensações. Do tamanho de pequenos insetos. Bom, pequenas criaturas de todos os tipos e tamanhos, na verdade. As larvas eram as piores. ” – p.139.

Os primeiros sonhos de Lisa já pareciam bastante surreais, mas logo as suas experiências se tornaram cada vez mais vívidas. Lisa começa a desconfiar de que quando dorme, algo acontece entre o seu corpo e as pessoas da cidade.

“Lisa suspirou alto. Moveu as pernas. Suspirou novamente, soprou um fio de cabelo do rosto. Olhou em volta novamente, se afundou no sofá. Isso tudo enquanto o vento rompia lá fora... Não existe uma maneira exata de saber. Não tem como eu realmente saber. Somente se eu provar, se eu tentar de novo. Apenas esperar a morte chegar não parecia uma boa ideia para uma mulher jovem como ela. ” - p.196.

A lenda urbana que vem aflorando a imaginação da população da cidade toma uma forma bastante singular e Tessália é atravessada por uma vivência desconcertante, aterrorizante e ao mesmo tempo, arrebatadora.

“— Qual forma você quer que eu assuma? Que tal essa figura em sua mente, essa fina e vaga lembrança de fisionomia, da qual você não sabe de onde vem? Essa figura que pode ser a representação de várias pessoas com quem se deparou na rua, na fila do mercado, na internet. Essa imagem remota escorrendo por sua mente. Fico, assim, mais agradável aos seus olhos? ” – p.230.